porta quebrada

Esta página não tem intenção de ser reconhecida pelos "outros", mas serve de alívio para o que nela tenta escrever, rabiscando sentidos e percepções. Fadada ao caos do tempo alienado dos compromissos, aqui a mão e o cérebro se faz silêncio e palavra que perfura até o chão da rotina, ou seja, aquilo que deveria ser e não é mais. Por isso, neste espaço não existe porta, pois está quebrada, arrebentada pela liberdade do interesse.

sábado, 17 de março de 2012

Observei


No dia em que vi você na areia feito sol
Com barulhos de concha no sertão do nordeste
No alto de uma montanha de nuvens cor de infância
Com os olhos de medusa e cabelos de rainha abandonada

A lua nasceu entre os fios da favela
Parado moleque espraiava sua pipa no vento livre
Nos dedos marcas de caneta e de fome
Na avenida obra cara suja as plantas baratas das casas
Algo aconteceu neste segundo: crime sem publico

sexta-feira, 16 de março de 2012

Citação II

."Mergulho em você mesmo.
Temos medo de estarmos conosco, mergulharmos em nosso interior. O silêncio e sua prática nos leva a esta possibilidade de encontro profundo e revitalizador. Com o silêncio, encontramos a paz e o amor incondicional vem com toda a força transformadora. "O amor é a força mais sutil do mundo.O mundo está farto de ódio". É é este ódio irracional e distante da força criadora que destrói,corrompe e ensurdece a humanidade.
Pare! Recomece! Reprograme-se... O silêncio pode ser o ponto chave desta nova caminhada. Pratique-o diariamente e transforme um pouco nosso mundo. Ouça-se.
"Temos de nos tornar a mudança que queremos ver no mundo. Você tem que ser o espelho da mudança que está propondo. Se eu quero mudar o mundo, tenho que começar por mim."
Pratique diariamente o silêncio da paz. Respire profundamente algumas vezes. Inspire e sopre lentamente até ir relaxando e mergulhando dentro de si mesmo. Feche os olhos e silencie seus medos, preocupações e ansiedades diárias, por alguns momentos. Dê a chance à sua paz e a paz do mundo. "Faça a sua parte, se doe sem medo. O que importa mesmo é o que você é...
Mesmo que outras pessoas não se importem. Atitudes simples podem melhorar sua vida."
Você nunca sabe que resultados virão da sua ação. Mas se você não fizer nada,não existirão resultados. Espalhe esta ideia.
Transforme o mundo, a partir de você.

"Seja a mudança que você deseja para o mundo".

Mahatma Gandhi

Citação I



“A única revolução possível é dentro de nós”
Não é possível libertar um povo, sem antes, livrar-se da escravidão de si mesmo.
Sem esta, qualquer outra será insignificante, efêmera e ilusória, quando não um retrocesso.
Cada pessoa tem sua caminhada própria.
Faça o melhor que puder.
Seja o melhor que puder.
O resultado virá na mesma proporção de seu esforço.
Compreenda que, se não veio, cumpre a você (a mim e a todos) modificar suas (nossas) técnicas, visões, verdades, etc.
Nossa caminhada somente termina no túmulo.
Ou até mesmo além...
Segue a essência de quem teve sucesso em vencer um império...

Mahatma Gandhi

Outro outro



Há outro eu escondido a cada passo e memória

Irritação e reclamação inconsciente
Dor sem fundo

Pensamento ralo e seco

Quadrado redondo



Anteotem o prédio virou bailarina
A rua arrotou peixe de semana santa
Ó céu virou sangue ao entardecer
A senhora se transformou em doce de mel
Na vitrine um oceano de desejos de sereia
No alto da montanha um ar de concreto
Na cama dorme o livro esquecido
No aeroporto um camelo a espera
No canteiro nasce criança na árvore
Na escola o monge carneia um leitão
No pasto um palhaço chora de dor
Na janela o hemisfério é profundo
A outra vez se transformou agora

Inverso real



"É preciso atrair violentamente a atenção para o presente do modo como ele é, se se quer transformá-lo. Pessimismo da inteligência, optimismo da vontade." (Gramsci)

Na cidade grande feito Metrópoles, não há tempo pra outra coisa a não ser trabalhar. Destino para o trabalho. Comida no trabalho. Relações no trabalho. Suor no trabalho. Planos no trabalho. Ideia para o trabalho. Tempo no trabalho. Descanso no trabalho. Vida no trabalho. E a morte? No trabalho.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

IMPOTÊNCIA


Pagar impostos e assistir à noite tv. Votar e saber da máquina gigantesca e autônoma da política formal brasileira corrupta e burocrática. Fazer nada. Fada fazer. Fazer. Nada.

Mito


Chegará um dia em que pagaremos para não trabalhar. Neste dia o tietê será um passado e a avenida paulista um grande escorregador.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Soltilhões de um momento

O amor é coisa inventada por aquele cego ficcionista.


Há do outro lado da solidão e do caos, encontro e beleza.


A rua é passarela da morte certa e da vida esquecida.


Nas cidades não existem pessoas, mas individuos.


O trabalho nada mais é que distração, o jogo é aprendizagem e o hobby é percepção do real.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Bela beleza


A beleza é algo que contornamos como conceito recheado de significado:

Uma testa lisa por um brilho ou ofuscalidade inata.
Um cabelo simples e depositado numa singela magistral e infantil.
Os lábios são sobressalto de memória e dor, pela distância e pela maniqueísta realidade entre a pele e o beijo.
Este é o cm da admiração e arroto de imagens, que colam no corpo feito curativo em dia de sol.

domingo, 4 de dezembro de 2011

blá cotidiano

Quem sou eu? Pergunta tão obvia e tão fresca na minha pele e do lado esquerdo do peito. Existem sentimentos que nos atravessam feito lamina fina, de tão fina é invisível. Estou numa mesa qualquer num bairro distante e sinto-me longe de tudo que me dá brilho, força e motivação. Estou como um palhaço sentado ao lado de fora do circo ao final do espetáculo e com a soma infinita de um cansaço de fazer os outros rirem. Enquanto isto minha maquiagem esfarela-se em suor. Peguei o telefone e vasculhei alguma alma conhecida. Parei num número de cumplicidade e história da infância, adolescência e juventude. Ao ligar caiu-me a verdade parcial, toda verdade é parcial, para não dizer a parte de uma hipótese, ela não conheceu a minha voz e nem imaginava quem era. Eu disse, “sou o Fábio”, ela em um sobressalto perguntou, “Que Fábio?”. Neste momento restou-me apenas uma memória de quem hoje eu era. Tantos amigos, tantas vidas e toda esta história ficou parada de frente de um muro que hoje separa a minha vida presente de uma vida passada, feita como um museu que nem de cera pode ser, apenas de imagem soltas e meio apagadas de um passado que esqueceu de construir a sua própria ponte para o presente-futuro. A solidão é a voz sem retorno, é a mão sem a carícia ou é o rosto desconhecido de nós mesmos. Sei o que fui, mas não sei o que sou e o que serei. Cai sobre mim mesmo um peso de meus dias, que se perdem no labirinto do desejo (ou melhor, da falta dele) e dos compromissos inúmeros somados numa agenda em uma mochila que carrego, feito montanha triste embrulhada.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

O HOMEM




















Despido de sua história centralizadora e irreal
Sem direito, dever ou tratados e lógicas
Apenas sentado diante da natureza

Um ser com músculos, olhos e suas dores comuns
Mãos dispostas ao trabalho de sobrevivência
Sem óculos, relógios, dinheiro ou depósitos

Mora e planeja casa feita de barro e de sapê
O terreno é aconchego e nutriente
As estações definem suas decisões

As relações são de necessidades físicas e futuras
Filhos são para o cultivo natural do grupo
Mulher é presença sagrada da produtividade

Sem adorno e nem imaginação de si mesmo
Vive a procura de um detalhe de beleza
E aceita a sua fatalidade momentânea

Entre o absurdo e o cotidiano, escolhe a contemplação
Ignorante das chantagens intelectuais
Sabedor de sua inutilidade e morte

Quando caminhas preferes as trilhas e o não-visitado
Está mergulhado em sua rotina de cultivo
Prioriza o tempo do tempo

As palavras lhe são ponte de urgências
O toque é gesto de produção
A lágrima é registro de verdade

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

ESCREVER - uma possibilitada possibilidade




Hoje visitei um espaço de moribundos, chamado de “cracolândia”. Coisa estranha e mergulhada em caos. Já vi muita coisa mas assustei-me complexamente. O que causou desespero foi o mosaico estruturado ao longo destes dias. Ruas esquecidas, obras burramente levantadas e remendadas. Arvores destroçadas em projetos concretos. Mundo besta, dificultado pela sensação de desconforto alimentada pelo contorno fedorento, sujo, raquítico e doente desta realidade, chamada São Paulo. Onde fica o Alphaville? Em algum lugar e estado longe daqui. O território e a geografia tem a ver com cheiro, contorno e gosto.




Besta cidade

Saia um dia de casa
Pode ser de carro, a pé
Ou de qualquer forma
Porém que seja presente

Pare na frente da cracolândia
Veja o cheiro das crianças,
As mãos das mulheres
E a boca dos garotos

Depois saia e observe as obras publicas
Inacabadas e mal lavadas
Mal gosto de remendos
Placas anunciam alto custeio

Meça sua rua com a proporção de arvores
Examine os fios estendidos no céu baixo e estreito
Toque os postos tortos e cinzentos a cada passo
Compre uma janela antirruído para seu filho não enlouquecer

A vida seu sargento nesta cidade é uma coisa
Sem razão e nem delírio
A sensação é de um monte de irrealidades
Sem amor ou sem perdão

Quem vai publicar tamanha estranheza?
Quem diria aos outros nós que somos assim?
Quem pintará as mentes dopadas desta multidão?
Quem construirá uma nova cidade presente-futura?

Sei do que vi, cheirei e chorei
Caminhei, medi e senti
Falei, montei e decorei
Analisei, escrevi e tentei

domingo, 9 de outubro de 2011

Morte assumida, vida resgatada




 
Ontem conversei com um amigo, que não o via um montão de tempo. Existencialmente o reencontrei anémico e com alguns sintomas de medo, ansiedade, preocupação com a reputação, perdido e com uma visível situação e comportamentos infantilistas. Mas por quê? Pelos tantos anos em instituições formais ou não formais em que lhe propiciaram uma estado permanente de fuga do intelecto em imagens e lógicas meramente imaginativas, tanto em âmbito teológico (Deus), filosófico (essência da vida) e sociológico (humanismo inocente).

Porém, agora que seus anos lhe suplicam respostas “atitudinais”, sente-se como um leão em corpo de passarinho. Para superar, ou melhor, para processar de maneira saudável e tentar resgatar este corpo ainda vivo, é necessário enterrar 3 entidades, corporificadas imaginativamente ao longo destes mais de 30 anos:

Enterrar a imagem deste deus que lhe vigia, amputa e proíbe: deus não existe! (desalienação)
• Enterrar o medo e a percepção de si mesmo até agora: sou um homemm nada mais e nem menos! (realidade)
• Enterrar a preguiça que faz com que permaneça no mesmo lugar e estado: estou vivo ainda! (motivação)

Porque usar o conceito de “enterro”? A questão é: ou enterramos estas questões feitas em carne e rotinas, ou não suportaremos mais o cheiro da podridão de algo que já morreu há um tempo incalculável! Ajamos, pois corremos o perigo de morrermos de alguma virose propagada pelos cadáveres que hoje são depositados nas salas de nossa vida. Eis o grande perigo "mortal". A sociedade sempre gerou necrófilos. O primeiro passo é sentir o cheiro fétido, o segundo debruçar-se sobre os corpos, assumir as nauseas e sentimento de horrorização e o terceiro é ter atitude de trabalhar para o funeral (assim já falava Zaratustra)! A verdadeira morte não é fisiológica, mas perceptiva, que isto fique pichado e registrado aqui.

Sem mais delongas é isto e mais um pouco, porém, já serve para iniciar um caminho simples, complexo, estranho, belo, mas vivo. Dizem os pensadores antigos e alguns do presente que “chegamos a um processo de maturidade, quando temos a capacidade de sermos nossa própria mãe e pai”, eu acrescentaria, “quando tivermos a capacidade de compreendermos que somos pai, filho e espírito santo”. Entenderam? Não falo de dogmas, mas de processos cosidos na simplicidade de uma dimensão que cotidianamente somos flagrados, porém com outras tantas linguagens e signos: assumamos nossa própria divindade e nossas vãs existências, como a única capacidade de ser e de agir! Quando temos a capacidade de assumir a morte, resgatamos a possibilidade da vida.

domingo, 2 de outubro de 2011

Portifólio da exclusão (Segunda Provocação)



Durante muitos anos as sociedades ocidentais acreditaram e ainda acreditam que instituições de abrigos com o foco para idosos, pessoas com deficiência, crianças “abandonadas” (afetivamente ou socialmente), fossem uma resposta adequada para constituir o direito à dignidade e à assistência integral. Porém, quando se instituiu este tipo de proposta pública ou privada se dividiu, neste esforço benéfico, a sociedade entre: os que produzem e tem algum tipo de utilidade cotidiana, e diga-se de passagem, estes são considerados os “normais” da história, ou melhor, os que são “sociáveis”, e outros que não se enquadram nos parâmetros de qualidade mínima exigida para receberem um título de “seres relacionáveis”, “produtivos” e consumidores conscientes. Estas duas últimas características “produtivos” e “consumidores”, são essenciais para entendermos a lógica de discussão aqui apresentada frente ao processo de categorização de seres-humanos, que resultará em tomadas de decisões exclusivas e excludentes escandalosas diante do primado dos direitos humanos. Com esta argumentação social, de dois grupos de seres humanos distintos, arquitetou-se e justificou-se grandes e pequenos depósitos de seres rotulados de “anormais”.

A sociedade como um todo, em especial os seus líderes empresariais, políticos e sociais, obviamente que se sensibilizam e se importam com estas “vidas incapacitadas” e o destinar das mesmas. Porém, desde que exista um limite saudável, ou seja, um lugar segregado do ritmo, funcionalidade e ambiente comum dos seres “normais”. Pois dentro da rotina da sociedade com suas distintas configurações de cidades, vilas, lugarejos e bairros, não são adequadas para tal inclusão cotidiana. A questão central é: criar um mundo a parte e que tenha o ritmo especial de todos os seres mencionados na introdução deste texto, para assim, preservar a ordem pública! Para explicitar de maneira mais concreta esta reflexão basta analisarmos os nossos ônibus públicos que não foram feitos para cadeirantes. Outro exemplo é caso exista um “louco” em qualquer espaço e que esteja quebrando a normalidade dos outros, é situação para a polícia ou internamento imediato em algum centro de habilitação - lugares distantes das cidades, ou em casas inseridas num bairro periférico, com muros tão altos que não se ouvi e nem percebe movimento algum de vida. Sem falar dos medicamentos “sossega leão”, aplicados na veia para tranqüilizá-los e deixa-los num estado mumificado, sem voz nem movimentos “estranhos”. Já os nossos semáforos não têm utilidade para as pessoas com deficiência visual. E o que falar da estrutura das cidades como um todo, não foram pensadas (se é que alguma cidade foi pensada) para crianças. Acrescentamos aqui as crianças diante desta categorização de “anormalidade”, porque não rotina são manuseadas feito objeto sem vida e sem capacidade de decisão (sem voz e sem argumento), conceito de “menorização”. Se alguém se sente agredido por esta afirmação comece a pensar no que fazemos com muitos temas que são habituais, sem o critério da análise e da crítica cotidiana. Somos esmagados por pré-conceitos herdados na genética de nossa história e cultura. Por isso, apresentamos este tema que historicamente não ousamos enxergar muito menos pensar de maneira pertinente e contundente.

Para aguçar esta reflexão: O que são as nossas creches e centros de educação infantil? Verdadeiros depósitos de seres em desenvolvimento, mas que ainda não tem a capacidade de produzir e consumir (pelo menos não de maneira consciente, ou seja, não escolhem o que querem. Mas seus pais sim, estes são os sociáveis). Nestes espaços se limite castrador, os movimentos das crianças (físico e metal) e o pior a capacidade de criar, são direcionados para um afazer mecânico e rubrificador de condutas e percepções. Aprender a ler o mundo se resume a apropriar-se mentalmente de signos de um alfabeto, que não ensina a ler o “sentimento do mundo”, como dizia Fernando Pessoa. Hoje uma criança gasta a maioria do seu tempo de desenvolvimento em espaços formais e instituídos pelos adultos, sem descobertas e novidades, pois a parede é a mesma, não se vê horizonte, o chão não muda e tem que se dedicar a abstração de conteúdos elaborados por outros. O principio da “descoberta” não existe intencionalmente, elemento tão intrínseco a natureza infantil. O hábito social de dizer que: “criança não tem que estar na rua, mas sim, em casa ou na escola...” com a desculpa da violência gritante e de outros fenômenos geradores de medos e castrações. Porém, o sintoma da violência deve ser analisado de outros pontos de vista, por exemplo como a falta de relação, de presença e freqüência em alguns espaços, que são esquecidos e abandonados pelos viventes dos territórios. Percebam que os lugares onde são redutos de qualquer tipo de situação “marginal” é porque foram esquecidos, tanto pelos moradores como pelos gestores públicos. Antes de se transformar em uma zona de perigo já era um lugar abandonado. Este fenômeno de desapropriação dos espaços é resultado de muitas outras questões em que os setores de segurança instituída não conseguem, nem imaginam respostas adequadas, por que desconhecem o contexto maior.

Enfim, as crianças vivem como joguetes de compreensões e decretos dos adultos. Não oportunizamos nem o direito de assegurar a liberdade e a oportunidade da relação saudável e educativa da rua para crianças. O problema não está na criança, mas na estrutura adultocêntrica que se armou em todas as cidades, ou seja, se estruturou um mecanismo “funcional”, em que carros e motocicletas são mais importantes que o caminhar natural das pessoas. Nossos becos estão abandonados, pois não se vê utilidade, um parque e uma grama não são lucrativos para a rotina capitalista, que mata o sentido de coletivo e de pertencimento. Falta tempo para arquitetarmos uma cidade mais justa e que tenha um nó de relações mais igualitárias? O ciclo do capitalismo não pergunta o que é prioridade, mas sim, o que é vendável. Não se vende nas lojas produtos coletivos, mas sim coisas que agradem momentamente um individuo, sempre insatisfeito pelo próximo objeto de consumo. Vivemos numa sociedade que não tem a capacidade do parar, contemplar e agir de maneira diferente e, por isto, consciente.

A partir desta realidade acima mencionada, o que falar de alguns abrigos, hoje intitulados de espaços de acolhimento? Assume-se provisoriamente uma situação de descaso social, e o pior, assume o papel da família e muitas vezes das comunidades, dos conhecidos e da representatividade devedora do próprio Estado. A tudo isto Zygmunt Bauman chamou isto de “Instituições Totais”. Ou seja, são entidades que assumem de maneira ilhada e total (por isso modal), todas as características que deveriam ser compartilhadas com outros atores em espaços cotidianos e lugares distintos e diversos.

Ao visitar um programa de Acolhimento num país vizinho, diversas preocupações e problemas rondavam a equipe técnica e o juizado local, que exigia uma resposta imediata da Organização responsável por esta modalidade. Uma das técnicas da rede local de proteção, assim falou: “Os jovens estão dando muitos problemas. Menina grávida. Outros não querem estudar, sem falar da questão das drogas. Não há conversa que atenda e nem terapia! Muitas coisas ruins e sem respostas favoráveis rondam neste acolhimento”. E assim junto com outras técnicos levantou temas e mais temas, situações e mais situações, chamadas de “problemas organizacionais”. A questão era: um universo de situações dentro de um espaço que foi construído e metodologicamente arquitetado para ser um refúgio de paz e de harmonia para seres com “problemas” (conceito muito utilizado para estes casos). Obviamente que esta compreensão alienante passou por cristalizações de interpretações históricas e culturais ao longo de muitos anos. Hermann Gmeiner, neste caso, o fundador deste modelo e organização, pensou nisso? Certamente que para sua época a necessidade era uma e a resposta estava acordada e sintonizada nesta condição.

Destarte, em muitos lugares e regiões pessoas tem vivenciado dramaticamente esta realidade: problemas e mais problemas são confortados e imaginados num espaço coletivo de acolhida. Ainda mais quando existe uma estrutura que tende a centralizar a rotina e a percepção de mundo destas crianças, adolescentes e jovens. Quando se centraliza intencionalmente uma vida, aquele que intenciona, no caso desta reflexão à Instituição, deve assumir o destinar desta vida. Eis aqui o problema da institucionalização, institui-se uma realidade, em que fora dela não há experiência, nem vida, por isso, nem futuro. Fora da instituição não há vida, ou seja, não há um ser capaz de responder sua própria autonomia. Eis o ciclo vicioso da dependência institucional. Isto é o produto das Instituições Totais. Porém, a questão é que na sociedade há gravidez, há namoro entre adolescentes, há uma epidemia de desmotivação por parte da juventude, há perdição da droga etc. Mas isto não é responsabilidade isolada e única de uma Organização, que presta um serviço total para a sociedade. Ao final desta escuta de lamúrias dos já citados técnicos relatei, para a juíza que mantinha uma atitude de exigir uma resposta apropriada e “mágica” de mim representante da Organização envolvida. Eis que assim respondi: “Obviamente senhora juíza, somos culpados por estas situações, porque engendramos um universo paralelo e assumimos o papel do Estado e da sociedade, como um projeto coletivo. Isolamos esta nossos “atendidos”, que antes de serem assim chamados são seres humanos parte de uma comunidade de vida. Compete a nós imediatamente mudar de estrutura e de metodologia, a nossa proposta é social e não de ficção em que acreditamos montar um cenário imaginário, em que o centro e o senso de realidade não passa de uma enganosa expectativa de que aqui é o lugar para se viver. Sabemos que somos um espaço de acolhimento, mas não um Estado paralelo, ou uma sociedade anexa a outra sociedade. Assumimos a responsabilidades de “situações-problemas” da sociedade como um todo. O problema não é organizacional, mas sim um problema de relações familiares e da própria sociedade como um espaço coletivo e comunitário: de professor com aluno, de policial com jovem, de postos de saúde com a população, de secretários de educação com secretários de urbanização etc. Está na hora de revermos nossos limites e nossas expectativas, pois ou nos sentimos parte de uma sociedade em que problemas atravessam e são neles que devem somar as nossas forças enquanto cidadãos, ou estaremos falando de um modelo falido, fadado a absurdos, crimes e mortes psicológicas e emocionais (...)”. Este desabafo foi como que um mea culpa histórica e uma convocação para mudança tanto das estratégias deste Programa, como para o posicionamento da Juíza representante da justiça do Estado.

Terminamos aqui como iniciamos esta reflexão, somos espertos em isolarmos aquilo que não sabemos conviver (na psicologia se fala do “não saber assumir o conteúdo vivenciado” e na sociologia “a exclusão do desfavorecido”), aquilo que é considerado como “problema” deve ser depositado em espaços e lugares, que representem um refúgio para os dois grupos sociais: para a “vítima”, aqui tem seus direitos básicos garantido, e para o ‘socorrente’, não preciso preocupar-me mais com esta situação, “o problema é de outros”. Creches, asilos, grandes espaços de acolhimento se observados a partir de uma ótica analítica nada mais são do que depósitos de seres humanos, renegados pela sua condição ou situação de vulnerabilidade. Porém, fecho aqui esta provocação: um “problema” é sinônimo de oportunidade e de resposta; é a matéria prima para a possibilidade de mudança.

Já revelava a lógica de uma pensador anônimo medieval que, a verdadeira mudança consiste em três grandes e profundas ousadias:

a) Atitude de mudança na mente (Percepção);
b) Atitude de mudança na prática cotidiana (Práxis);
c) Atitude de Mudança das estruturas (Flexibilidade);

Com estas atitudes propositivas e intencionais a sociedade atingiria um estado de autenticidade e justiça plena. Por isto, a palavra chave é mudar é preciso, comecemos pelas nossas concepções e assim por diante. Receita dada, saúde esperada, para a nossa humanidade!

O esquecimento de decisões (Primeira Provocação)



Chamo aqui para a reflexão sobre o problema das instituições totais, em especial dos serviços de acolhimento presentes no mundo inteiro, mas agora me atenho há um país que visitei e que reflete algumas realidades em tantos outros cantos e culturas.

Hoje conversei com várias crianças e jovens, em uma mesa de almoço e perguntava-lhes inicialmente: “O que gostam de fazer?” resposta abrupta, “Nada!”.

Poderia ser uma resposta imediata, sem reflexão ou um mero enfrentamento entre jovem e adulto. Mas não, era a perspectiva real daquele momento, instalado mediante a experiência vivida diariamente num espaço de acolhimento, escondido numa região de campo.

Este lugar foi construído há mais de quarenta anos. Sem acesso a outras vizinhanças e outros barulhos, realidades e outras questões diferentes deste elo institucionalizado. Pensei comigo mesmo, quem está olhando para estas crianças? Aqui estão e aqui ficarão? Quem decidirá por este crime de esquecimento? O esquecimento de decisões gera morte.

Já são 18h e ouço grito de expedições pelos campos, são as crianças a procura de uma imagem real que só encontram na ficção de uma brincadeira. Vejo outros adolescentes em baixo da arvore falando de coisas que escapam a nossa imaginação. Enquanto o tempo passa, crescem e se imaginam, e aí sim poderão pensar: “O que faço de minha vida?” E a conclusão será pesada, feia e drástica: será que não terão elementos suficientes para responder de maneira tranqüila, serena e realista esta questão? Um dia lhe tiraram a possibilidade de lidar com sua realidade de origem com a desculpa justa de “salvar a sua vida” e agora já crescido, não sabe o que é a sua vida nem presente, nem passada e nem futura. Uma imagem fictícia entre um lugar bom, uma boa comida e o intrigante enigma: um futuro sem medida certa.

Um dia lhe salvaram e algum momento lhe mataram, sem perceber. Esta é a lógica da institucionalização. Aquilo que não fortalece mata. A realidade é o ingrediente para o desenvolvimento integral e neste caso estas crianças, adolescentes e jovens estão em processo de desnutrição existencial e tendem a morrer, existencialmente falando, como moribundos sociais e sem os nutrientes contraditórios da realidade e da história. Aqui se vive uma estória e não uma história!

Grande parte delas tem família e estão aqui há mais de anos, perdidas num vale de imaginação. Foi-lhes tirado o direito da contradição relacional, ou seja, viver a pobreza ou não, o valor de pegar um ônibus, a dignidade de ir a padaria comprar pão e a alegria e frustração de coser relacionamentos de amizade num território identificado e conhecido etc. Isto aqui não existe. Mais um domingo e um dia de piquenique com o seu projeto de vida, que se resume a nomes, rostos conhecidos e uma pasta guardada nas gavetas do escritório da organização, com toda a sua história relatada por profissionais do social.

É obvio que a resposta mais preocupante foi quando perguntei: “Vocês saem daqui no domingo?” “Não! muito longe a cidade e eu não ando de ônibus, somente de caminhonete (fala do carro da organização)”. Quando quis provocar um pouco sobre esta postura e percepção e lhe trouxe a possibilidade de levá-la a uma comunidade numa região das mais pobres do entorno e perguntei sobre o que faria como se sentiria? Me perguntando se mudaria esta sua postura de ´insignificância´ e sem vontade para nada? “Pode me levar para aquela porcaria! Não me preocupo com isto e não me sentirei abalada com estas pessoas”. Mal sabia ela que estatisticamente era um destas pessoas. Porém, não percebe isto. Pois a imagem fictícia de uma organização totalitária acalenta a imagem irreal de um seguro pleno e eterno para a sua vida.

Outro dado: quando perguntados sobre a sua origem, grande parte deste grupo não sabia de que bairro vinham e alguns não tinham nem noção da sua cidade e onde ela porventura se localizava. E outros me disseram que tinham irmãos e tios sim.

Enfim, daqui á alguns anos teremos consciência do crime que ora se propaga em tantos países, lugares e rincões, no que se refere ao direito de uma criança a convivência familiar e comunitária, algo tão primário e básico, mas hoje, algo “anormal” e elitizado por manobras sem esforços do Estado e Organizacionais não-governamentais.

Temos que incutir a sensibilidade (espírito de “finesse”) e a inteligência (espírito geométrico) do direito, assumindo estes erros e reconhecer o crime cometido pela nossa incapacidade de não posicionar-se e responder de maneira mais efetiva e atualizada a estas situações ainda existentes.

Acolher ou excluir? Eis a questão! Toda exclusão gera morte, porque tudo o que existe é feito de relações tanto no âmbito fisiológico, psicológico, sociológico, antropológico e pedagógico. Somos feitos da relação entre sujeito e história e esta é desenvolvida na relação com os meios familiares, comunitários, sociais e outros. A convocação para todos os indivíduos e coletivos (estado e organizações) é esta: encerremos com o ciclo de morte das relações, promovido pela ignorância e atitude crassa, geremos vida e vida em abundância em nossas estratégias, ações e estruturas e assim disseminemos a cultura do verdadeiro cuidado social e político!

Carma divino


Tua pele branca desliza uma leve palidez fosca e aveludada feito neve de brincadeira, com olhos pequenos e borrados por uma faísca azul esverdeada, contornados pequenamente por um fio de maquiagem preta.  És uma imagem tão doce, atípica e exótica como um ar de outono no fim da tarde de tormenta. Tens um tecido que cobre a cabeça, com detalhes em branco e rosa, dele revelam-se fios de cabelos transbordando na nuca, como sorvete derretendo na casca, e espraiando a pequena testa. Soube que há um tempo curto de tempo, fora agarrada por uma doença maligna, porém, isto é segredo e não falas, vives.  Materializas está dor em delicadeza. A doença é feminina, pois gera um corpo frágil e terno. O que sobressai não são estes e outros acontecimentos que porventura te atravessam ou te mergulharam, mas sim, publica em tua fronte uma delicadeza enigmática e teu vigor magistral. Reveste-te de uma moda, toda própria que recorda uma rainha europeia em um deserto de noite, onde o frio lhe proíbe o bronze ou o suor. Pergunto-me nesta hora qual a sua origem? Quem será o teu pai? E tua mãe? E por fim, cai uma gota de medo frente a esta beleza tão rara e tão singular, carregada por um carma ou um delírio de divindade que surpreende como grito de criança ao nascer. Quem irá assistir a tua morte num dia distante em que te sobrará uma raquítica memória deste dia em que lhe conheci, como um espectador de ópera sem ser percebido pela atriz principal do espetáculo.

(Uruguay - num dia em uma instituição de "orfãos de tudo")

Fuga ou Morte


Há perigos que não vemos na TV e nem nos colírios de nosso amanhecer ou nos óculos de nosso anoitecer. Vivemos todos os dias com tantos desejos, sonhos, vontades e anseios. Mas somamos diversas contradições e contrariações internas concretadas por um externo. Queremos “sim” para tantas coisas, mas somos condicionados a tantos “nãos” que muitas vezes, passam feito vento matutino e destroem feito tsunami na madrugada. Estrupamos nosso corpo ético, esmagamos nosso cérebro existencial e destruímos nossos projetos. Esta voz invisível psicótica que diariamente se faz no trabalho, nas relações, nas religiões e instituições. Eis o maior crime, sem juiz, nem advogado e nem tribunal: a morte daquilo que realmente nos constitui. A morte mais trágica é aquela que não sabemos de seu cheiro, cor e nome, em que morremos vivos. Assassinemos aqueles que são nossos patrões, que fazem o sermão e exigem compromisso tolo das convenções. É preciso matar os outros, para salvar a ti, epistemologicamente falando. Ou pelo menos fuja e busque um recanto qualquer, longe deste massacre, se é que é possível, antes que seja tarde demais. Fuga ou morte, eis a solução.



terça-feira, 19 de julho de 2011

DEVOÇÃO DE PRATELEIRA




Refrão
Quem diz santa quer proteção
A criança confia na aparição
Aqui olho pro nada e sem noção

1. Soletro o que vejo e toco o que imaginava
A dor inventa coisas a própria razão desconhece
A vida é soma de não entendimentos mesmo

2. No alto da ladeira menino morre de arma
Na padaria menina disfarça troco
Na esquina acidente de embriagado

3. Quem me falará de deus?
Salve a santa que está onde está
Sem reclamações e nem remela

domingo, 17 de julho de 2011

Uma mulher

A beleza é a sensação de perda, impossiilidade, frustração e saudade.
A vida é um tudo de nada, feito de nada de tudo.
Buscamos a permanência do belo e morremos de esperar.
Não é uma matéria, mas um comportamento.
O que é a beleza?
Que sintoma é este?
A soma de uma francesa, com uma chinesa, índia amazônica, negra africana, é a combinação do que chamam de gostosa imagem. Como se os olhos transformassem em paladar. Esta confusão atravessa este estado indescrítivel em conceitos habituais.

A vida como ela é...

A consciência bela da vida se dá em instantes frouxos, rídiculos e ociosos.

sexta-feira

A beleza é uma matéria que se apresenta depois de um dever e nos finais de tarde das sextas-feiras.

domingo, 10 de julho de 2011

Aniversariar é pensar em algo além de nós


(memória do dia 26/06/2011)

Ontem fiz 30 anos. Uma linha de anos e acontecimentos. Momento cozido num pesar de dor e incomodo que caiu nos poros de minhas horas. A visão é que já são três décadas de vida, às vezes, a matemática torna-se num bom senso e no bisturi de um cirurgião de verdades. Entulho de idéias defraguei ao longo de algumas horas de ócio e memória. Refugiei-me no canto da cama de casal, construindo momentaneamente um eremitério, uma colina, um abismo em que a única coisa palpável, imaginável e comunicável, era o vazio do que sobrou de mim, se é que esta imagem reflete o que quero expressar. Mas entenda-se a intenção e não a condição. Este é o poder do sensato leitor. A questão central era: o que tenho feito de minha vida? Ou melhor, o que sou dentro dela? Será que ela é minha? Ou sou de algo que é manuseado por outro(s)? Pergunta tão comum ao ser humano nos momentos de celebração tanto da vida quanto da morte se é que podemos cortar as duas como realidades distintas e isoladas feito ilha e oceano. Hoje me faz sentido as imagens alegóricos utilizadas por Nietzche, o bom pensador que morreu louco feito professor do caos e da demência, mas enfim, as imagens eram a do camelo (tu deves), leão (tu podes) e da criança (tu és). Na vida laboral somos embutidos numa gestação que nos fabrica para a temporalidade de um afazer sem rumo e sem sentido. Morremos as horas em reuniões e idéias limitadas pelo dever. Devemos agendas. Devemos amores e respeito sem querê-los. Devemos uma arquitetura existencial sem perguntar a nós mesmos se era isto que queríamos, mas como isto acontece? Não somos nós que decidimos? Hoje somos receptivos as decisões que compete a outras pessoas, na vida laboral, social-afetiva. Quem terá coragem e consciência pratica suficiente para assumir e anunciar seus comportamentos bandidos e promíscuos além de sair pela rua com sua roupa rasgada e sua barba suja de comida e bebida sem a pretensão do temeroso medo? Minha companheira falou num diálogo picado de tantos assuntos: "Transforma seu incomodo desconforto critico e analítico em uma atitude que seja". Talvez esteja naufragado na pasmice que sempre critiquei dos seres totais: religiosos, políticos e estudiosos. Somos feitos pelos outros. Ao sair na rua vi como as pessoas que somos nós, se geometrificam numa relação patológica diante dos outros. Não falam de projetos, processos ou coisas, mas falam dos outros e no que tange as suas vidas com os outros. Enfim, nestes tantos anos sinto-me conhecedor de tantas situações, mas perdido com informações desconectadas pela falta de mais contemplação. Na janela respinga a chuva e na TV anuncia que meu time goleou por 5 x 0 o grande rival. A noite chegou já na alta madrugada um gosto de medo e de morte petrifica minha saliva. O que sou, faço e serei. Lembrei dos que estavam ao meu lado e despareceram na continua historia. Talvez a única verdade autêntica e real ao longo destes últimos anos horas e presente. Velai o seu próprio corpo antes que não tenhas olhos e memória para a vida. Heidegger dizia: que a única razão da morte esta na possibilidade da vida. Somos seres para morte. Afasta qualquer tipo de preconceito e de hábito. Jogai fora os tratados sobre a condição da morte e deposita nos lixos qualquer tipo de simbologia e parafernália religiosa sobre a condição do fim. O fim é a condição do início a possibilidade profunda do meio.

Merda de Segurança ianquizada

Em visitas pelos países vizinhos, chamados de andinos, e aqui mesmo em terras brasileiras, me incomoda feito dor de desanimo, fracasso e morte uma imagem gravada na história atual de todas as civilizações deito verdade dada e não digerida nem questionada. Nossa segurança tem a cara da política de segurança do EUA. Nosso povo multado tem armas de brancos e ignorantes americanos. Qual governo terá a capacidade de eleger uma outra forma de estabelecer a segurança? Não aquela herdada dos ianques? Até mesmo aqueles que se intitulam de socialistas latinos são resumo e síntese gritante desta política e estratégia crassa.

A arte longínqua

Hoje ser artista é sinônimo de busca de uma imagem excêntrica.Trabalho ao lado de uma escola de artes. O que é aquilo? Desfile de egos e excentricidades tantas. Mal sabem que a arte nasceu como obra de operário? A arte plástica tem a capacidade de materializar em contornos e cenários de realidades  de uma intuitiva verdade, perdida na cotidianidade humana. Já a arte literária mexe com palavras que nos despertam para a beleza de fatos e comportamentos. A beleza é uma realidade meio revelada. Ambas as artes plásticas e literárias são a capacidade de materialização de um conteúdo escondido, mas há quem fale pelo pincel, outro pela palavra escrita ou falada. Todas as expressões nascem da busca de um confronto com aquilo que escapa e que atravessa a vida. O artista é operário da rotina e não um ser abominável em lugares que não tenha esterco, prostituta, bêbados, criminosos, ou delgados corpos simples, mas exatos pela naturalidade da existência. A Arte acontece na rua e nos becos daquilo que não é percebido ou do que é vulgarizado. Artista não é um mérito mas uma condenação.

Abstração do imediato concreto

Depois de ler livros, trabalhar em idéias tantas sobre o que é necessário para existência humana frente ao seu destinar presente e futuro, não encontrei nada, além do que frases repetidas e percepções segmentadas em aspectos curtos da história da humanidade. Hoje a quem fale bem de psiquiatria e de temas relacionados a patologias da modernidade (existem até catálogos para identificar estes tipos de doença. Em especial eu me classifico como um monstro psicológico em todos estes esquadros!).

Onde encontrar uma obra ou uma lógica que nos nutra de algo que saia de uns imediatismos e conclusões e medidas socialmente aceitos e introjetados na nossa existência? Dedicar-se a filosofia de tantos pensadores e metidos a gurus do presente e futuro? Ou esquecer-se diante de um afazer solto, tolo e sem rumo, apenas pegadas marcadas para qualquer trilha de distração? Como atuar neste cenário ou de crendices ou de negação ao pensar crítico?

Aí num passo em meio a um ócio e vaguear em meio há uma floresta se organização humana, surgiu tal conclusão: è necessário sair no imediato afazer e dedicar-se a observar as coisas como um extraterrestre a admirar e detalhar as tantas coisas que se fazem nesta terra. Somos antropocêntricos por natureza lógica, vivemos nossos amores e ódios como se eles fossem à razão autêntica e originária da confecção da vida. Somos patológicos seres, em que nos encaracolamos verdades imediatas, em que o universo do trabalho torna-se história de vida e morte. A dor cruel de uma má abordagem na padaria nos destrói feito guerra de Vietnã. Em falar de guerras construímos armas e matamos feito brincadeira de menino maluco ou satanizado. Não existe exorcismo que acabe com este mal, de perto tão natural e normal de longe uma aberração da inteligência sensível.

A física quântica já nos tirou o tapete de que não somos o centro do universo nem mesmo fazemos parte de 1/3 de sua capacidade de vida e de elasticidade criação.

Não somos e nem seremos nada. Buscamos verdades e inventamos deuses para justificar nossa centralidade umbilical com nossa voraz necessidade de sermos reconhecidos por nós mesmos e pelos outros. Na boca dos homens o seu deus é grande para que eles tenham mais forças e mais sentido de bajulações tantas. Levantamos templos como se fossem a coisa mais sagrada. E descobrimos distantes destas coisas que existem mistérios maiores e mais simples que não ousamos enxergar e nem pensar. Não somos nada e nem temos nada. Armamos casas e apartamentos e esquecemos de contemplar o painel de verdades que é uma noite e um dia que revela dimensões de tantas outras centralidades. Hoje já descobriram (ainda), com base no limite de nosso conhecimento humano, mais três universos que se interligam por canos infinitos. Quantas galáxias existem? Quantos planetas se escondem neste ar de ilógicas chamado de universo?

A saída sábia para um ser humano que busca uma sensação e uma equação autêntica de vida, está na sua capacidade de abstrair-se do imediato concreto, e vaguear pela ilógica espontânea da vida. Não quero tratados sociológicos e nem antropológico para identificar algum processo originário, quero sim lê-los como resumos de uma odisséia de contradições e alienações em que a única verdade está na doença disseminação pela natureza racional do ser humano. A natureza do pensar tem três variáveis, utilizá-la para a lógica de um produzir sem porque, a lógica de um viver para justificar a si e suas verdades e a última que selecionamos aqui como via autêntica, aquela que se abstrai do imediato e analisa esta história de alienação (trabalhos, sociedade, projetos, religião, relações) marcada por expectativas e frustrações e nada espera, nem convence vive da capacidade de contemplar de agir frente ao seu destinar natural morte e ciclo de adubagem existencial (deteriorização e transformação natural).

domingo, 3 de julho de 2011

Consumo = como ser


Vamos pensar um pouco... não precisamos fazer grandes análises para diagnosticar um crime existencial que cometemos a cada passo, esquina e minuto. O que é isto que nos impulsiona a comprar, a ter, a consumir? Na maioria das vezes, despertando expectativas, projetando imagens, causando ansiedades, pequenas satisfações e muitas frustrações. A base do consumir é o processo de frustração-satisfação-frustração e este ritmo é incessante, por isso, constante, permanente, cotidiano e essencial. É a lógica inútil e manipulada do ser-capital que tanto sabemos. Mas o passo para o "não fazer" parece impossível de se concretizar em uma ação e postura radical (corte da manipulação), caminhar com os próprios pés e enxergar a partir da percepção autêntica e original. Nascemos numa cultura do ter. Fazemos, compramos, consumimos e planejamos outras coisas. Coisificamos a nossa existência. Para isto ficamos encarcerados pela independência financeira. Trabalhamos para comprar, compramos para viver. Urgh! Voto de abstinência antes que eu morra sem saber, não sou eu que vivo, mas são "outros" que vivem e mim. Esta é a dimensão ontológica de nossos reais, absurdos e miseráveis dias. Detesto conviver com pessoas e comigo mesmo quando a única ou a grande parte de sua percepção e lógica, está fora de si e dos fenômenos simples e iquietantes da vida, e sim, fundamentam-se e vivem para as percepções das vitrines e a lógica simplória das promoções do mercado. Consumir é mais fácil do que viver. Viver, hoje, é QUASE que impossível.

sábado, 2 de julho de 2011

Crônica Concreta

Nos rincões de miséria de continententes tantos o capitalismo massacra a naturalidade harmônica das culturas locais. O capitalismo nestes países é sinonimo de lixo visual e material. Não existe ar puro, nem terra fértil, muito menos vida sã. Doença ambiental, social, cultural e humana são pílulas de sobrevivência nesta cinzenta vida.

domingo, 26 de junho de 2011

contraditória natureza divina?

Ao voltar a ler uma passagem da bíblia, livro que os cristão devoram feito carne em dias de miséria e fome, surpreendi-me com a passagem de Abraão ao tentar matar Isaac. Que deus é este que justifica a possibilidade da morte de um filho para garantir e reforçar a sua necessidade de obediência, ou melhor, servidão? O deus dos judeus é assassino e o deus dos cristãos é cego. Jesus tem o seu mérito, sua singularidade, mas o seu deus, a quem chama de pai é o mesmo assassino de antes. Neste sentido, o mérito está no ser humano Jesus. A mesma lógica de Abraão, é a lógica dos terroristas, a diferença é que não existe a mentirosa imagem de um anjo, que lhe segura a mão. Na bíblia se justifica a vida em abundância e a morte sem sentido, agarrada e movimentada pelo capricho de uma entidade egoísta. Deus é invenção dos homens e mulheres, como projeção simbólica de suas aspirações e desejos, tanto do tânatos, como de eros.

Abraão e Jesus seres antagônicos e protagônicos da natureza misteriosa e possibilitadora do ser humano.



quinta-feira, 23 de junho de 2011

feito pensamento


O pensamento é aquilo que transfere os olhos para direções a procura de algo e os pés em direção a uma imagem requerida. Somos feitos de idéias e de movimento, um gera o outro.

VI CONFISSÃO?

Escrevo estas linhas, pois dentro eu vomitava estas reflexões e buscava uma reposta institucional. Coisa que nunca foi me dada, a ponto de me tirarem de cena, com um fato de expulsão ilógica e sem argumentos, em que reinou mais uma vez a mentira e a fraqueza da instituição Igreja, poderosa para os fracos, e piada para aqueles que não dependem do suprimento egoísta (ego) deste lugar “sagrado”. O conceito de sagrado é uma ficção daquilo que na vida nos confortamos com nossa máxima humanidade: ir a praça é mais um ato religioso do que disfarçar tempo e saliva numa igreja, cofre de homens e mulheres que fogem de si mesmos e de suas fatalidades históricas. A bolha do acreditar refugia tantos medos dos primários ao mais evoluídos. Escrever para mim é uma forma revolucionária de tentar romper com um sistema que é maior do que a vontade e percepção de muitos ou de um indivíduo. Mas entendo que fora não tenho nada a perder e nem serei perseguido a não ser continuar no exílio da amizade daqueles que convivi por mais de 15 anos e eram minha rotina e família. Mas prefiro expor-me a esta causa do que morrer com ulceras de insatisfação e inconformismos tantos com esta realidade fictícia e mentirosa. Sempre reconheci o valor enquanto gente destes companheiros que permanecem, por este “amor amizade”, declaro aqui estas palavras, para fortalecer neles a consciência do estado ridículo e contraditório e desumano em que estão expostos, ou melhor, presos. Para muitos serei inimigo da igreja, para outros um jovem imaturo revoltado, ou ainda alguém que nunca teve fé e renunciou considerar-se ateu. Mas para mim a única certeza é que a realidade supera qualquer tipo de slogan. Sou cidadão e como cidadão participo da construção de um mundo mais justo e saudável. Este é o meu princípio. Seria ignorância e desperdício histórico de minha parte ter vivido tanto tempo e construído tantas experiências e depois não sintetizar isto num discurso histórico para os atuais e os que virão. A Igreja(s) é um fator histórico que rege(m)  muitas vidas e logo histórias.

V CONFISSÃO?

Nesta semana a mãe de uma amiga minha do rio de Janeiro informou-me de que não suporta mais a situação da sua filha, uma gerente de banco, que vive sendo iludida por frade novo, que sabemos que permanece para terminar seus estudos de pós-graduação e etc aqui em SP, e que se encontra periodicamente com a mesma e toda a torcida do Corinthians sabe mas não se faz nada e a única punição é o tempo que se perde de derrubar esta imagem falaciosa da igreja na nossa contemporaneidade. E o pior que esta Igreja armazena pessoas que manipulam outras para a imagem de fortalecimento e mantenimento de si própria. Este é a ditadura da ignorância e da alienação. O que vou fazer? Denunciar para a polícia? Isto não é uma questão legal cívica, mas sim ética e de ordem filosófica e social, pois a mentira armazenada nos conventos orquestra um ciclo patológico sem igual. Zumbis de vontades e porões de doenças e mentiras.

IV CONFISSÃO?

Uma coisa é certa desta experiência que fiz, a igreja consegui arquitetar em sua estrutura uma lógica que atrai grupos de pessoas, que se caracterizam: O fraco intelectualmente, profissionalmente, culturalmente, socialmente pelo voto de crença num deus sobrenatural e poderoso, transforma estes seres em porta vozes, em que o púlpito, altar e os lugares sagrados, administrados por eles, os evidenciam e lhe investem de uma autoridade não pessoal. Mas sim, de uma imagem que é irrefutável pois se está falando de deus o ONIPOTENTE. O fraco é fortalecido. O ignorante sabe falar, porque repete palavra da bíblia, e o pobre financeiramente agora além do status é um homem com um bom carro, uma boa casa e dono (quase que accionista) de grandes patrimônios (escolas, igrejas, chácaras, casa de praia). Certa vez, um frade amigo meu comentou que depois de 10 anos voltou para o casebre de seus pais que eram colonos no interior do Paraná e quando chegou com um carro da moda, com bancos em couro, som da última geração e com músicas de Elton John, a mãe ao ver o filho adentra-se na casa e ao ver ao fundo o carro disse: “Meu filho deixei você ir para ser um padre e não um traficante!” esta imagem jogralesca revela uma situação simples, grande parte das pessoas que permanecem na Igreja eram pessoas de uma vida e realidade muito simples, a ponto de não quererem nem retornar a muitos espaços destes, pois a contradição é grande tanto para os parentes como para o “ungido”.

III CONFISSÃO?

Quando um dia interroguei a mesa de anciãos e mestres, CAETOS assim são intitulados o grupo de frades que decidem e opinam sobre a vida dos mais novos: “O que devo fazer, estou sendo provocado diariamente por uma mulher linda, em que me sinto atraído, em meio a minha necessidade humana de beijar, transar (...). O que fazer? Qual o método? Qual é a saída para esta tensão entre o ideal e o real?”. A resposta foi um riso de canto de boca, irônica e sarcástica, sem grandes preocupações, sempre com ar de “sei de tudo”: “Isto não se pergunta, pois cada um vive da sua maneira!” Neste exato momento caiu o véu da mentira, todos ali naquela mesa viviam uma situação de escape ou fuga. A Igreja se mantêm nos porões e caminhos paralelos, impronunciáveis mas vividos intensamente. A questão é que o que se vende e escreve em tratados sobre castidade e o escambal você nunca encontrou e nem encontrará na vida de um homem. Depois comecei a enxergar a vida escrava e deprimente das freiras, pessoas com uma pele ressacada pela anulação na virilidade da sexualidade e da liberdade do erro. Nunca podem errar, mas acabam se transformando no próprio erro em carne e osso. Este é o mundo religioso, uma mistura de trabalho social, com a escuridão de rituais, e imagem egoísta de seres que buscam um status quo, mesmo que por um grupo de senhoras aposentadas devotas rezadeiras de terços, rosários e outros brinquedos mais. Quando a pessoa não assume as aptidões e percursos desejados pelo corpo, vive escrava de objetos e adereços que “feiticham” a dor da perda e do exílio.

II CONFISSÃO?

Nos corredores e salas dos conventos os frades são a representação da falsa ideologia. São chamados e se vendem como irmãos, mas na verdade são maquiavélicos a ponto de sabotarem e buscarem a morte do outro, de maneira imaginativa. Mas dizem que a imaginação é o ato mais perverso pois antecede o fato. Cada um no seu universo, mundinho fechado e aberto aos desejos de reconhecimento. Um frade é um ser a procura de bengalas de reconhecimento, ser paparicado é o ato de inflar-se e sobreviver nesta opção sem fundamento, apenas um sopro de delírio do passado. Muitos permanecem na tentativa de buscar algo que nunca encontrou, mas sabe que já se decidiu e não quer renunciar a verdade de que aquilo nunca existiu e nem existirá. No início inculcam nestes sujeitos desejos de uma profissão, em que será revestido por uma vestimenta diferenciada o “hábito”. Depois outras expectativas de estudos e cidades diferentes, até culminar na possibilidade de consagração perpétua ou ordenação e assim vai percorrendo as expectativas deste manipulados seres. Até que envelhece em cargos e funções tão normais que a pergunta se evidencia: Por que continua registrado nesta vida religiosa? Perguntei isto há muitos e me disseram é tarde de mais para iniciar uma vida “por si mesmo” e outros se calaram, pois a resposta é grande e feia de mais para caber e ser admirada pela consciência. Muitos destes têm mulheres iludidas, vivem momentos em motéis, ou hotéis em grandes centros. Ao conversar com os companheiros de turma e de outras turmas mais novas soube do óbvio a não possibilidade real de viver sem uma transa ou cumplicidade de toques com alguém. No convento uma coisa era explicita, por mais que nunca dita, a homossexualidade se resume em dois comportamentos: o primeiro alguns assumem o companheirismo com algum colega, outros são tão estéreis que se montam de um machismo bruto por não querer revelar a sua condição humana afetiva de ser gay. Por mais que não assumam a violência das palavras do comportamento grosseiro revelava uma afetividade em destroços e num turbilhão de energias libidicas. Hoje em aproximadamente 500 frades 40 tem filhos que são mantidos pelo capital da Igreja. Destes outros muitos tem mulheres e vivem uma rotina subterrânea com as mesmas.

Outros vivem casos paralelos com companheiros e amigos. E destes muitos já morreram em cenários de filme policial, num hotel de periferia com meia calça enrolada no pescoço e a família preparando festa de bodas de ouro de ordenação, isto tudo quando souberam que o tio era amante de um menino de 16 anos (o mesmo que o matou). A santidade é um depósito de expectativas sem lógica ou equação real. Aprendi nesta experiência da igreja que o que imaginamos dos outros nada mais é do que ficção desnecessária de nossas expectativas platônicas. Porém, neste campo de afetividade e de dimensão sexual a resposta para um caminho de liberdade ou pelo menos de sinceridade não existe.

I CONFISSÃO?

Fui frade franciscano e durante 15 anos educado e formado pelas mentes e propósitos destes homens. Na vida que tenho pensei em nunca confessar este tipo de informação, mas tenho necessidade de expor de maneira direta e espontânea uma denúncia construída pela vida que levei e sei que todos ainda levam lá dentro, daquele universo social, cultural e até financeiro paralelo ao mundo da sociedade como um todo. Toda instituição deste porte tem valores, constituições, hábitos por eles mesmos. Aqui faço um parêntese de que mesmo em época de crise ou inflação a igreja sempre comemora lucros e estabilidade, pois a lógica deste grupo é sempre contrária, se falta dinheiro, o “povo de deus” deposita e investe na prece e na tentativa de milagre. Alguém já abriu os cofres das igrejas de Sto. Antônio ou do inventado Sto. Expedito? (Ou melhor, todo santo é inventado pela estratégia de comoção e ilusória ética e moral). Imaginem um dinheiro em miúdos de todas as cores e gentes (percebe-se pelo cheiro e valor) em montanhas e montanhas numa mesa velha de madeira, num quarto escuro do convento. Bem, mas isto é um detalhe sem contundência para o que segue.

Real inUtiLidaDe

Vida, morte, alienação, perda de tempo. Estas palavras sempre rondam as palavras e os discursos dos filósofos ou qualquer um que se utiliza da “logia” (lógica) de alguma ciência. Mas porque estes temas são considerados importantes? Na natureza etimológica e hermenêutica das palavras residem verdades que construímos com as mãos de nossa imaginação. Não sabemos diferenciar mais o que é invenção e o que é uma descoberta. Mas na verdade tudo paira na inutilidade dos conceitos e no vazio da percepção.


Mas o que é a vida? Um momento transitório que nos conduzirá a um lugar melhor, sem dor e cheiro, em que estaremos misturados com algo que seja tão etéreo que será eterno, porque não ex-sistere (fora do ser que se faz a cada instante)? Há quem diga que vivemos alienados, ou melhor em processo de alienação. Alienação seriam coisas que miramos para distrair nosso destinar fatal ou mais “nobre” daquilo que se atreve a viver.

Ontem assisti a um jogo de futebol, uma mobilização de gente, atravessadas por um sentimento de luta, paixão e desespero. Mas o que há de realidade nisso tudo? Porque as pessoas se deixam nutrir por um devaneio tolo e irreal? Esta não é uma questão que construo aqui, mas que herdo de muitas reflexões e de muitos conceitos “formados” em algum contexto. O que é a alienação? Existirá um contraponto frente a este conceito? Como vive um des-alienado? Com o conceito de “Jesus” na mente e no carro? Ou um militante político enrolado de perspectivas tantas, que o conduzem as suas próprias conclusões? Qual a diferença entre um porco e uma juiz? Entre um sapo e um padre? Entre uma cadela e uma mulher? Longe das ofensas, abuso nas citações para despir estes conceitos tão entranhados na nossa idéia que parece que realmente eles existem na equação da realidade.

A vida é a soma de coisas inúteis tristes, leves ou divertidas. Um jogo pode ser abundância de um momento que não volta, mas que é vivido de extrema sensibilidade e importância. Um fato simples, corriqueiro, ou socialmente massificado, expele emoções e percepções que não são tolas ou sem sentido, existe uma intencionalidade e um encontro vital.

A vida se faz nestes momentos, em fatos e coisas que nos conduzem para a e pele e o sentimento. Nisto nos fazemos e somos. Longe disso existe um moralismos e uma abstrata compreensão e sensação do que seja a vida. A vida é uma partida de futebol, um churrasco chato, um olhar perdido pela janela. Nada mais e nem menos. Somente isto.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Lírica urbana

Aprendi a olhar não mais para o que as paisagens verdes me diziam. Busco agora o concreto esfumaçado e pichado da cidade. Quantas coisas estão entulhadas nos cantos dos becos. Isto não é reflexão sociológica, mas sim existencial. Somos feitos das ruas que pisamos e das agendas impostas pela mecânica urbana. Cada vez mais observo o barulho das madrugadas e o sussurro dos loucos que embebedam as fachadas das lojas e urinam nos quatro cantos das esquinas. O que diremos de nosso futuro? A morte tem algum impacto frente a tudo isto? Ou já morremos de nós mesmos? A lida de um vigia, não é mais séria que a fadiga de um matador no sertão do nordeste. A mesma perna que baila no chão de um nortista é o que inventa o ritmo na Lapa renovada. Quanta gente e quanta coisa inventaram para abrigar nossa mente de mentiras tantas, que desfocam um objetivo para encarnar outros, que estão escondidos à sete chaves nas gavetas do inconciente, para nós grupo de gente que vive para trabalhar, do mundo empresarial. Toca o sino da escola, ou será da cadeia pública? Hoje não se disitngue o que é ensino e o que é repressão, punição. As fachadas das casas são as mesas fachadas de antigos escritórios de contabilidade, sem criatividade, subjetividade e pouco espaço. Não há vestígio de campos improvisados, ou ruas como extensão de um parque de diversão imaginária, mas real, rotineira. Na cidade parece que não há mais crianças, transformou-se em um mundo institucionalizado, como uma prisão, hospício ou uma repartição pública. Não há espaço para a individualidade ou a invenção, pois tudo esta catalogado ou vendido. A cidade é um solo privado, por milhares de seres e grupos, que se intitulam "líderes de negócios" ou assalariados, todos vacinados pela mesmice crassa do existir pelo existir, ou melhor, do produzir-consumir-produzir. Quando este ciclo, movimento, processo falece é por que não há vida, aniquilamente social, morte moral e obviamente morte clínica, deixou-de-existir. Não há hospital ou medicina para isto. A exclusão e a marginalidade social surge deste processo. Ao passar pelo viaduto do chá, em São Paulo, sobressai de um prédio a irreverência vital de dois artistas gêmeos, que pintam na rotina o sabor de seu desejo e vontade, arrotando a todos os transeuntes frenéticos e devedores de trabalho, um momento de delírio lírico e de saúde física, psiquica, religiosa, cultural e social. Nem tudo está tão estranho e complexo de quase enlouquecer a gente, há vida nas mãos e na possibilidade de outros, que se fazem na inteligência de sua vivência imediata e criativa. O que chamamos de "saúde" aqui é a equação entre tempo, ócio, desejo, invenção e liberdade, esta é a visão de um novo capital, ou melhor, de uma nova existência neste cenário de tragédias e mortes cotidianas, por mais que não existam velórios e funerais. Decretar este estado de morte é o primeiro passo para que dos restos corpóreos do que hoje chamamos cidade (partícula do que é a sociedade)  façamos adubo para um novo estado de vida, em que o eu é a soma infindável da liberdade criadora.




sábado, 26 de março de 2011

Ser um humano


O que é o ser humano? Depois de tanto ouvir e ler tratados e reflexões a respeito, nenhuma afirmação foi tão certeira/real quanto a que vivenciei ao passar alguns dias nos campos dos andes. O Ser humano nasce para degustar comidas e trabalhar para disfarçar os seus dias numa utilidade que lhe traga sustento. O resto é vaidade, imaginação. estado de alienação. Nem mais e nem menos, é isto.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Humano, uma patologia essencial


O ser humano sofre mais pelos seus atos e pelos atos dos outros do que com a vida em si (copórea e ambiental). Somos mais as relações com os outros, que a própria materialidade da existência. A vida é um complexo psiquico instável e egoísta que transpassa por todos os afazeres e contextos. Hoje os ambientes de trabalho coletivo, empresas, organizações e outros, são reflexos deste estado de patologia!